terça-feira, 28 de abril de 2020

Yoga não é contorcionismo


Em geral, quando a gente vê a foto de um cara em kurmasana, titibhasana ou dwipadasirsasana (se você não conhecem essas posturas, deem um google), a gente logo acha que é um ótimo professor de yoga. O que a gente não percebe é a frustração que os professores que focam nesse tipo de postura, para se promoverem nas redes sociais, causam na grande maioria das pessoas. Como resultado, acabam promovendo um yoga excludente e elitista, em que só pessoas muito jovens e flexíveis têm lugar. As pessoas ditas comuns sentem-se frustradas, inferiorizadas e acabam desistindo do yoga.

Os ásanas, ou posturas de hatha yoga, foram desenvolvidos na Índia por pessoas que possuem um biotipo bastante peculiar. O yogue clássico era, em geral, uma pessoa magra, com pernas finas e braços longos, o que favorecia o desenvolvimento de posturas que para pessoas com outra formação óssea/muscular são praticamente impossíveis. Quando um japonês ou um espanhol, por exemplo, tentam fazer essas posturas com a mesma desenvoltura que um indiano, o resultado é lesão muscular, dor, artrose, envelhecimento precoce, ou seja, sofrimento. Ao longo de 30 anos de prática equivocada de hatha yoga, tive que operar meus dois joelhos, ganhei uma hérnia de disco e uma lesão permanente nos ombros, além de problemas limitantes em outras articulações. 

Por uma questão de sobrevivência, o yoga sofreu mutações para se adaptar a um ambiente comercial, tirando o foco de sua filosofia e pondo-o em suas características mais chamativas e vendáveis. Assim surgiram práticas como o Ashtanga, que muita gente gosta, mas não consegue fazer inteiro. Nesse sentido, o yoga deixou de ser uma filosofia e passou a se vender como uma mercadoria.

O próprio Yoga Sutra define ásana dessa forma: "a postura é estável e confortável". As posturas de yoga servem para dar ao nosso corpo tônus, flexibilidade e equilíbrio, e isso nós conseguimos através de posturas  bastante confortáveis, como por exemplo o trikonasana (postura do triângulo), o vrksasana (postura da árvore) ou o navasana (postura do navio), por exemplo. No máximo, se faz um sirsasana ou um kakasana, que são posturas possíveis, apesar de precisarem de muita orientação e cuidado na execução. São essas posturas fáceis que permitem que busquemos, no interior delas mesmas, um caminho pessoal de evolução, atingindo mais desenvoltura e precisão, com foco na concentração meditativa.

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