Malho
dentro do shopping, minha academia fica no segundo subsolo. Lá dentro nunca
tinha sinal, por isso me acostumei a deixar o celular dentro da bolsa, no
vestiário. Graças a Deus!!! É um dos raros momentos do dia em que me liberto,
consigo andar sem ter que carregar esse aparelhinho que praticamente virou uma
extensão do meu próprio corpo. Quando saio sem o celular na rua, me sinto nu e
me acompanha um medo estranho, parece que alguma desgraça vai acontecer e não
vou ter como pedir ajuda.
Ano
passado, quando mudei de operadora, descobri que para operadora nova o sinal lá
dentro até que funcionava, de vez em quando. Mesmo assim, decidi continuar
deixando o aparelhinho dentro da bolsa. Afinal, não faz sentido algum levar o
celular para malhar – quero me concentrar nos exercícios e o celular só
atrapalha. Mas as outras pessoas que
malham lá pensam diferente. Frequentemente, vejo gente sentada nos aparelhos de
musculação com aquele olhar entretido com alguma coisa na telinha. Às vezes a
pessoa se perde mesmo, fica totalmente hipnotizada pelo celular e nem percebe o
quanto isso incomoda quem quer usar o aparelho e tem que ficar esperando. Quando
a paciência da pessoa que está esperando chega ao limite, ela é obrigada a dar
aquela tossidinha e perguntar “Oi, falta muito? Podemos revezar?”. Geralmente,
a outra pessoa, a hipnotizada, não atende de primeira, espera que tussam mais
umas 3 ou 4 vezes e que perguntem de novo, com a voz um pouco mais alta. Aí ela
olha como se estivesse ela se sentindo incomodada, responde com um ar blasé
“Faltam só mais duas” e continua empatando o aparelho, como se fosse dona da
academia.

É
muito interessante, para não dizer desesperador, olhar para as pessoas na praça
de alimentação, nos restaurantes, no metrô, nos cafés, enfim, em qualquer lugar
em que haja gente sentada. Nove em cada dez pessoas passam o tempo todo olhando
para a telinha do celular. A que ponto chegamos? Que lavagem cerebral é essa
que estão fazendo conosco?
Claro,
também sou uma dessas pessoas alienadas, também fico totalmente entretido com o
facebook, com o instagram, com o whatsapp e com todos os outros instrumentos de
dominação em massa que eu mesmo instalei no meu aparelhinho (e detalhe: instalei
por conta própria, ninguém me obrigou). Mas outro dia aconteceu algo inusitado:
meu celular caiu na calçada e a tela ficou estilhaçada. Desesperado, fui à
Paulista e deixei para arrumar num desses lugares de eletrônicos que parecem
uma filial da Santa Ifigênia. Pediram para deixar lá por 40 minutos – 40 longos
minutos, uma verdadeira eternidade. Aproveitei para andar pela Paulista, mas
confesso que foi estranho. Perdi totalmente a noção do tempo (não uso relógio
de pulso, me incomoda) e minha paciência estava curta. Faltando ainda uns 15
minutos, entrei no Fran’s Café e, enquanto comia um lanche, fiquei observando a
rua e as pessoas. Foi uma experiência nova, redescobri o prazer de fazer parte
do mundo real – não no mundo virtual. Queria ter essa experiência mais vezes.
Já
pensei em tirar umas férias do meu celular, começar a deixá-lo em casa quando
sair para passear, sei lá, para me sentir dono de mim mesmo novamente. Me
lembro como era antes de inventarem o celular, me sentia livre e nem me dava
conta. Mas, por mais que eu tente, essa birosca parece que está grudada no meu
corpo, não consigo ficar longe. Acordo e a primeira coisa que eu consulto é a
telinha dos infernos. Tomo café com ele do lado, saio de casa com ele no bolso,
tomo banho com ele perto do box e, quando vou dormir, deixo-o carregando
pertinho da minha cama. Coisa do diabo! Por enquanto, só consigo mesmo me
libertar quando estou na academia ou quando derrubo o celular na calçada e
tenho que mandar consertar. Fora isso, sou um zumbi como qualquer outro
paulistano.
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